quarta-feira, 12 de maio de 2010

ELEIÇÕES 2010



Ao longo de dois mil anos, o Mundo assistiu à participação de inúmeros cristãos na ação política. Talvez o caso mais conhecido seja o de S. Tomás Moro, proclamado Padroeiro dos Governantes e dos Políticos, que soube testemunhar até o martírio que “o homem não pode separar-se de Deus, nem a política da moral”. Inspirados por este maravilhoso exemplo de coerência, e “guiados pela consciência cristã” somos desafiados a “não abdicar de participar na política, ou seja, na ação econômica, social, legislativa administrativa e cultural, destinada a promover o bem comum”. Este último apelo é tanto mais dramático para nós, os jovens, mergulhados numa sociedade civil que evidencia o fim de uma era, rumo a um tempo de incerteza e relativismo. Esse relativismo cultural e moral tudo questiona; põe em causa a lei moral natural em nome de um pluralismo ético condescendente com algumas orientações morais e culturais transitórias, como se todas as concepções possíveis da vida tivessem o mesmo valor. A doutrina da Igreja relativamente a esta matéria é clara: da liberdade política e de pensamento advém a livre escolha que cada um de nós tem para optar por diversas soluções politico-partidárias que, porém, devem ser moralmente aceitáveis. Á Igreja não compete formular soluções concretas, e muito menos únicas, para problemas temporais que Deus deixou ao juízo livre de cada um. Porém a Igreja não se demite do seu direito e dever de pronunciar juízos morais sobre essas realidades temporais, sempre que a Fé assim o exija. Se a democracia é a via que melhor exprime a vontade dos cidadãos, tal só é possível se, na sua base, existir uma reta concepção da pessoa. Este é um princípio inegociável para os católicos, uma vez que qualquer Estado Moderno deve centrar a sua atividade na pessoa, nomeadamente na defesa intransigente da vida humana desde a concepção até ao seu termo natural. Ora, estamos numa época em que a cultura predominante vive obcecada com a morte; nesse sentido, todos os católicos têm o dever de intervir, apelando a um sentido de responsabilidade mais profundo sobre a vida e opondo-se a qualquer lei que a ponha em causa. O mesmo poderia ser dito em relação à família, fundada no matrimonio monogâmico entre pessoas de sexo diferente e cada vez menos protegida na sua unidade e estabilidade, perante as modernas leis de divórcio que se quer “simplex”. Não se pode pôr juridicamente no mesmo plano as famílias e outras formas de convivência. Os ataques atuais incidem também na liberdade de educação dos Pais em relação aos filhos, na promoção de modernas formas de escravidão, num laicismo desmesurado em nome de uma pretensa liberdade religiosa, etc. Recordo finalmente o grande tema da paz. Esta, enquanto “fruto da justiça e efeito da caridade”, requer uma constante vigilância e empenho dos católicos com responsabilidades políticas, recusando radical e absolutamente todas as formas de terrorismo e violência desnecessária. Em suma, os católicos devem ser promotores de uma cultura política que recuse o dogmatismo secularista, o mesmo que pretende fechar a praça pública das democracias à religião, sobretudo da tradição judaico-cristã em que se funda o Ocidente. O século XX testemunhou as terríveis consequências do paganismo anti-judaico-cristão do nacional-socialismo alemão e do ateísmo anti-religioso do marxismo. Mas há setores intelectuais que não aprendem com a experiência. Insistem em ver a religião como “o ópio do povo”. Penso que, tal como Raymond Aron, esse dogmatismo anti-religioso é “o ópio dos intelectuais”.

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