A Campanha Nacional Contra a Violência e o Extermínio de Jovens² nos desafia e nos provoca para falar, refletir e agir sobre quais as origens da violência, e podemos fazer isto através da análise estrutural dos vários tipos de violência da realidade no Brasil, sejam elas físicas, morais ou psicológicas. Estas abordagens vão variar de cultura para cultura, porém temos que ter claro o princípio de que qualquer violação de direito à vida deve ser levada em conta uma ação concreta de violência, seja ela direta, como a negação de direitos básicos que caracterizam a pessoa humana como cidadã e sujeita de direitos ou configurando-se em condições de extrema injustiça social, sendo negados direitos fundamentais na garantia de vida digna, educação, lazer, saúde, moradia, alimentação e vida segura. Olhar esse parâmetro é ter clareza que historicamente temos uma herança através das estruturas de poder que ao longo dos séculos vem configurando a ideia de privilégios, individualismo, riqueza e acesso privilegiado aos/às “escolhidos/as” ou “selecionados/as” na sua condição de vida.
Logo, a Campanha, que começa a ser sonhada e planejada na 15ª Assembleia da Pastoral da Juventude do Brasil (PJ, PJMP, PJE, PJR), em 2008, não começa a existir por si mesma, mas pela urgência de se fazer um debate sobre as várias formas de violência sofridas pelos/as jovens, em especial os/as jovens do Brasil inteiro que são exterminados/as, vítimas de assassinatos, suicídios e acidentes de transito.
Depois de dois anos de Campanha, evidenciada e mobilizada em vários cantos do Brasil, através de lançamentos organizados pelos/as jovens nas Igrejas, movimentos, organizações e espaços de participação juvenil, ela reafirma a necessidade de continuidade de suas ações. As Pastorais da Juventude estão colocando em prática sua missão na evangelização da juventude, protagonista e atriz principal na transformação de sua própria história, junto a esta realidade de morte que chega às portas de adolescentes e família inteiras, deixando desespero, tristeza, desesperança e sensação de vida interrompida. Missão evangélica porque, como seguidores/as do Cristo ressuscitado, o compromisso com a vida em abundância é o mandamento de relação de amor com a humanidade.
Mais ainda, não podemos dizer que a missão está por fim, já que se têm alterado os gestos negativos e já podemos sonhar com a ausência total de qualquer forma de violência com a pessoa, em especial contra a vida de jovens. Os números, que não são apenas números quantitativos, revelam em si a significância concreta de pessoas reais, com sonhos, famílias, esperanças, angústias e desejos de vida; jovens com endereços de moradia e trabalho, com amigos na esquina, participantes de grupos e tribos na sua diversidade, que frequentam escolas, universidades, festas e Igrejas, estão nos bairros nas grandes ou pequenas cidades, em zona rural ou comunidades tradicionais como quilombolas e ribeirinhos; são milhões que deixam de ser atores, protagonistas das suas próprias vidas e histórias para acrescentar e se somarem aos números desoladores das pesquisas sobre morte de jovens no país.
O Mapa da Violência 2010 e 2011³, com informações do Ministério da Saúde, pode ser uma boa referência e algumas delas já justificam a importância da continuidade de ações contundentes contra a violência: temos a informação da interiorização da violência no país; a continuidade da vitimização de homicídios baseados na raça e gênero, chegando 12 vezes mais negros/as sendo vítimas do que os/as brancos e uma alta proporção de mortes masculinas. O levantamento na realidade local é fundamental para essa sensibilização e formação que leva para ações concretas.
Tendo como base esse cenário repugnante de violência institucionalizada, a Campanha Nacional Contra a Violência e Extermínio de Jovens deve ser assumida por todos os homens e mulheres que acreditam em Outro Mundo Possível, no Reino de Deus, na Terra Sem Males. Seja qual for o lugar social que ocupamos, dentro ou fora das estruturas, religiosas, sociais ou políticas, se fizermos isto de forma articulada e organizada nos eixos de “formação, política e trabalho de base” para a mobilização dos grupos que acompanhamos para fazer uma escuta melhor da realidade, com informações concretas e levantamentos sobre a violência no Brasil. Outro eixo de ação são as ações de massa e divulgação da Campanha, dando visibilidade, realizando festivais, debates, lançamentos da Campanha nas escolas, Igreja e grupos. Aproveitar as ações realizadas nas atividades permanentes das Pastorais da Juventude, como Dia Nacional da Juventude, Semana da Cidadania e Semana do Estudante, Semanas Maristas de Pastoral, Feiras de Ciências, Artes e Esportes; enfim, todo espaço pode ser potencializado como lugar contra o extermínio de jovens. Não se esquecer de utilizar os meios de comunicação, como rádio, televisão, redes sociais (orkut, facebook, twiter) e outros canais de visibilidade. E, por último, o eixo “monitoramento da mídia e denúncia quanto à violação de direitos humanos”, esta ação deve ser permanente em nossas relações com a mídia, favorecendo o encontro para espaços de críticas aos conteúdos que legitimam a violência estrutural ou física e fazer denúncias, ficar atentos/as com a mídia que faz da violência um ato de espetáculo e da normatização da injustiça social.
Pensar, refletir e conversar sobre violência na perspectiva do cuidado e defesa da vida da pessoa humana e, principalmente, daqueles e daqueles que têm seus direitos negados e usurpados não é apenas o lugar da solidariedade, mas da compaixão, no sentido mais literal e radical da palavra. Colocar o coração do lado do coração do outro/a e sentir junto, sofrer junto, alegrar junto, colocar a vida em favor da causa, da luta e da mobilização que pode salvar vidas - vidas da juventude.
Inspirados/as pela coragem e apoio, retomamos Pe. Gisley4, assassinado em junho 2009, que queria gritar e girar o mundo: “chega de violência e extermínio de jovens”. Hoje sua vida para nós é sinal de força, de iluminação, de resistência e de ternura na causa contra o extermínio de jovens, na expressão máxima de identificar e reconhecer nos/as adolescentes e jovens o divino da graça de ser, sendo o que se é para ser mais.
1 Colaboradora da Casa da Juventude Pe. Burnier, Núcleo de Formação, Assessoria e Pesquisa. Integrante da Comissão Nacional de Assessores da Pastoral da Juventude
2 www.juventudeemmarcha.org
3 www.mapadaviolencia.org.br
4 Padre jovem Estiguimatino, assessor do Setor Juventude da CNBB.
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4 Padre jovem Estiguimatino, assessor do Setor Juventude da CNBB.
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