Silvinha Rezende
Ao longo da história do capitalismo, as classes dominantes têm atuado no sentido de adaptar o processo educacional para a manutenção e expansão da ordem vigente, preparando pessoal e conhecimento a seu serviço e legitimando seus valores e interesses. Na atual fase do capitalismo, temos visto os projetos pedagógicos das escolas e universidades voltarem-se à formação profissional (mão de obra) e à produção de conhecimento (tecnologia) que sustentem um modelo de desenvolvimento pautado pelo processo de acumulação de capital.
Neste contexto, tem se verificado uma profunda diferenciação na forma como a juventude camponesa e operária, de um lado, e os filhos das classes média e alta se situam na sociedade. No caso dos jovens de classe média e alta, são asseguradas as condições objetivas e subjetivas necessárias para que “vivam a juventude”, enquanto aos jovens das camadas populares é negado o direito de viver plenamente a condição juvenil, tendo em vista que, desde cedo, já estão inseridos em diferentes ambientes produtivos, como condição de sobrevivência própria e de suas famílias.
Ao mesmo tempo, o perfil do jovem brasileiro que possui ensino médio completo, assalariado e com carteira assinada, retrato geralmente apresentado pelas médias das pesquisas, não representa a realidade da grande maioria dos jovens brasileiros: precariedade, direitos trabalhistas não assegurados, longas jornadas, baixos salários, além dos constantes casos de assédio moral e sexual e as discriminações diversas no trabalho, sobretudo por motivação de raça, gênero, orientação sexual, regionalidade e local de moradia.
De acordo com o Dieese, 7 em cada 10 jovens participam do mercado de trabalho, empregados ou à procura de um emprego. O jovem é a População Economicamente Ativa mais atingida pelo desemprego. Em Salvador 41,4% dos jovens estão desempregados; em Brasília 35,4%; em Belo Horizonte 30,5%; em São Paulo 29,8%; em Porto Alegre 26,3%. Dois terços dos jovens que trabalham são responsáveis por complementar a renda familiar. Os jovens negros tendem a terem taxas de desemprego de 30 a 40% maiores que os jovens brancos. A desigualdade de gênero também prevalece: as jovens representam 25% e os jovens 15,3% dos desempregados.
A indústria e o comércio são, em geral, os locais de trabalho dos jovens de baixa renda; os horários menos flexíveis e a necessidade de complementar a renda familiar acabam obrigando estes jovens a deixarem a escola por falta de tempo para estudar. A grande maioria dos jovens não consegue, ao mesmo tempo, conciliar os estudos com o trabalho, sendo grande o número dos que (principalmente nas famílias de baixa renda) não conseguem concluir o ensino médio, muitas vezes nem mesmo o ensino fundamental, exatamente por já estarem inseridos no mercado de trabalho.
Também a necessidade de assegurar sua sobrevivência faz com que os jovens de famílias pobres sejam obrigados a aceitar as piores condições de trabalho, deixando de lado direitos, reivindicações e expectativas ao estabelecer uma relação de trabalho. A forma como se dá a entrada no mercado de trabalho, longe de ser apenas uma etapa inicial e passageira, influencia e determina o futuro da inserção profissional dos jovens ao longo de suas vidas.
Debater a relação entre educação e o mundo do trabalho, sob a ótica de uma juventude comprometida com a transformação social e o desenvolvimento do país, requer mais do que estabelecer mudanças nos projetos de educação formal – que certamente contribuem para a necessária construção de hegemonia; é fundamental construirmos uma ação que compreenda a educação no âmbito das transformações a serem feitas no conjunto da sociedade e da ordem capitalista. Tal necessidade aponta para a construção de alianças entre a juventude e os demais setores organizados da sociedade.
Sabemos que os sindicatos desempenharam papel decisivo ao regime militar, mobilizando centenas de milhares de trabalhadores em manifestações, greves e jornadas militantes. Deram seqüência e conseqüência a esse ciclo histórico engajando-se resolutamente, nos anos seguintes, em mobilizações políticas que contribuíram para a conquista da normalidade democrática de que o Brasil dispõe hoje.
Em anos mais recentes, já articulados e unificados em centrais sindicais, desenvolveram campanhas e mobilizações que superam o âmbito corporativo, para se inscrever na pauta das jornadas nacionais em favor da inclusão social.
Por isso, é justo atribuir aos sindicatos de trabalhadores uma parcela fundamental da responsabilidade pelo êxito da política nacional de juventude. Com seu engajamento pleno, estarão multiplicados os espaços e o potencial de sucesso dessa nova jornada estratégica de mobilização da cidadania.
Mas é necessário reconhecer as fragilidades atuais. São raros os sindicatos, mesmo na Central Única dos Trabalhadores (CUT), onde funciona regularmente um departamento ou setor juvenil. Os temas específicos que despertam interesses entre os jovens muitas vezes estão ausentes das pautas das campanhas salariais. Os boletins e informativos raramente adotam linguagem atraente para os jovens. Em muitas entidades, simplesmente inexistem as atividades culturais, esportivas e festivas que costumem interessar aos jovens ainda não engajados na militância sindical, como shows e festivais de musica, grupos teatrais, projeção de filmes, acampamentos, etc.
Em resumo, o cenário atual ainda é marcado por um certo conflito ou, pelo menos, por um distanciamento intergeracional nítido; muitos militantes e dirigentes mais antigos não priorizam a participação juvenil, adotam linguagem impermeável aos jovens, desconfiam de suas atitudes e, às vezes, expressam julgamentos carregando os mesmos preconceitos de que já foram alvo quando jovens: irresponsabilidade, irregularidade, superficialidade, individualismo, etc. nos congressos e grandes eventos sindicais, é nítida a queda percentual da participação dos jovens, numa comparação com as mobilizações – e fotografias – dos anos 70 e 80.
Propõe-se, para superar esse ambiente, introduzir nas práticas sindicais o mesmo principio de transversalidade sugerido para as políticas públicas de juventude. As questões da juventude devem ser interligadas aos temas de gênero, raça e orientação sexual, e abordadas em todas as ações direcionadas a metas e conquistas de interesse da categoria profissional como um todo.
A juventude CUTista sempre se preocupou com a violência, o problema do desemprego e a garantia de direitos, além das lutas mais gerais da classe trabalhadora; levantando bandeiras como a redução da jornada de trabalho sem redução de salários (eleita como uma das prioridades da juventude), pelo retardamento da entrada do Jovem no mercado de trabalho, contra a redução da maioridade penal, além de outras questões ligadas ao mundo do trabalho.
Para 2011, muitos desafios estão colocados para a juventude trabalhadora, como as campanhas salariais, congressos sindicais, participação na Conferencia de Trabalho Decente, Conferencia de Juventude, ambas pautadas pelo Governo Federal. E será dentro deste cenário que nós jovens cutistas iremos mais uma vez levantar nossas bandeiras e avançar nas conquistas da classe trabalhadora.
Silvinha Rezende é coordenadora da JPT da Macro Vale do Paraíba, membro da Direção Estadual da JPT-SP e do Coletivo Nacional de Juventude da CUT pela Apeoesp / CNTE.
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