Espiritualidade e mística na Pastoral da Juventude
“... os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós não estais na carne, mas no Espírito, se é verdade que o Espírito de Deus habita em vós, pois quem não tem o Espírito de Cristo não pertence a Ele. Se, porém, Cristo está em vós, o corpo está morto, pelo pecado, mas o espírito é vida, pela justiça. E se o Espírito daquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos dará vida também a vossos corpos mortais, mediante o seu Espírito que habita em vós...”
(Rm 8, 8-11)
O termo espiritualidade vem do latim e quer dizer daquilo que é da alma, amor ao próximo. Muitas vezes falamos ou nos deparamos com pessoas que dizem: “Nossa, essa pessoa tem uma grande espiritualidade!”, isso quer dizer alguma coisa, tal como o próprio significado da palavra, que essa pessoa deixa transparecer sua espiritualidade.
Falar de espiritualidade na PJ não é tarefa fácil. Quantas vezes nos deparamos em nossas comunidades frases do tipo: “A PJ não reza” ou “A PJ não tem espiritualidade”.
Engana-se quem fala isso, pois a pastoral da juventude se diferencia de outras organizações e/ou movimentos. A espiritualidade dela se dá de forma vivenciada, encarnada e libertadora.
Temos como exemplo o seguimento de Jesus de Nazaré, através de sua pedagogia do ir ao encontro do povo oprimido. Dessa forma vamos ao encontro da juventude em suas diversas realidades e, em especial, na realidade dos marginalizados e oprimidos.
Algumas vezes encontramos grupos que realmente não tem clareza sobre espiritualidade seja com excesso de oração ou não deixam isto transparecer em suas atitudes e práticas. Já afirmava Dom Pedro Casaldáliga no livro “Juventude com espírito”, “jovem ou grupo de jovens que não rezam são uns trastes”, pois se torna claro que não vivenciam a pedagogia de Jesus Cristo e a metodologia da PJ. Por outro lado, temos uma realidade eclesial de forma exagerada de exercer ou vivenciar a espiritualidade. Há um apelo ao sagrado, e uma forma de espiritualidade individualista, onde o outro não tem muita importância e há a necessidade maior de satisfazer os desejos próprios, uma “espiritualidade de trocas ou pedinte”.
“O desempenho da missão evangelizadora pede, de cada um de nós, uma profunda vivencia de fé, fruto de uma experiência pessoal de encontro com a pessoa de Jesus Cristo, em seu seguimento. Nossa conversão pessoal nos possibilita impregnar com uma firme decisão missionária todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais [...] de qualquer instituição da Igreja, exigindo nossa conversão pastoral, que implica escuta e fidelidade ao Espírito, impelindo-nos à missão e sensibilidade às mudanças socioculturais, animada por uma espiritualidade de comunhão e participação” (Cf. DGE, 8).
Dessa forma a PJ toma como exemplo a pedagogia de Jesus que teve seus momentos com grupos (os discípulos) e com a comunidade (Israel), o povo que era escravizado pelo Império Romano. Devemos fazer a reflexão de o que hoje qual é o império que nos escraviza? Essa dinâmica de Jesus nos provoca a colocar em prática a missão profética por um mundo novo e a construção do Reino de Deus no meio de nós.
Viver uma espiritualidade de grupo, encarnada e libertadora é um grande desafio também hoje, pois vivemos num contexto em que o individualismo e o neoliberalismo são fortes e o/a outro/a acaba não tendo muita importância. Até mesmo a proposta de Reino acaba sendo confundida, pois acaba se tendo a idéia de que o Reino é algo distante de nós.
Com criatividade pastoral, é importante apresentar e testemunhar Jesus Cristo dentro do contexto em que o jovem vive hoje e como resposta às suas angústias e aspirações mais profundas. “Devemos apresentar Jesus de Nazaré compartilhando a vida, as esperanças e as angústias do seu povo”. Um Jesus que caminha com o jovem, como caminhava com os discípulos de Emaús, escutando, dialogando e orientando (Cf. Doc. 85, 54).
Assim a espiritualidade da Pastoral da Juventude nos impulsiona a estar a caminho tal como a exemplo do Êxodo, quando o povo de Deus foi liberto da escravidão e caminhou pelo deserto com seus grandes desafios até sua terra. Hoje, também nos colocamos a caminho pela libertação da Juventude das opressões, a caminho do Reino.
A exemplo dos primeiros cristãos, descrito em Atos dos Apóstolos, usamos a metodologia dos pequenos grupos, pois facilita partilhar a vida, a fé e estar em comunhão fraterna, a rezar e estar juntos/as na construção do Reino.
O grande modelo de seguimento é também Maria. Nela descobrimos todas as características do discipulado: a escuta amorosa e atenta (cf. Lc 1,26-38), a adesão à vontade do Pai (cf. Lc 1,38), a atitude profética (cf. Lc 1, 39-55) e a fidelidade a ponto de acompanhar seu filho até à cruz (cf. Jo 19,25-27) e continuar sua missão evangelizadora (cf. At 2). (Cf. Doc. 85, 58)
Dessa maneira a exemplo de Maria também nos colocamos a serviço, acolhendo as angústias dos/as jovens, de forma a aderir à construção do Reino numa atitude profética e missionária, defendendo a vida dos/as jovens.
A palavra mística vem do grego e quer dizer mistério, busca de comunhão com a identidade com consciência, ou seja, para os cristãos o ápice de nossa fé é a eucaristia, mistério revelado na celebração da páscoa de Jesus. Celebramos sua morte vitoriosa na ressurreição, a ceia fraterna que nos alimenta para a luta, para continuarmos seu projeto de construção do Reino.
Texto de Thiago Oliveira Rodrigues
Revisão: Ir. Cleofa Marlisa Flach, IDP
Referencias Bibliográfica
Documento 87 – Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, 2008-2010 CNBB
Documento 85, Evangelização da Juventude. CNBB
Juventude com Espírito. Pedro Casaldáliga - Bispo Emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia.
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