Missionariedade e profetismo... Uma partilha sobre a Ampliada de Imperatriz
“Acorda América, chegou a hora de levantar,
O sangue dos mártires fez a semente se espalhar!”
De 08 a 15 de janeiro de 2011 aconteceu em Imperatriz-MA a Ampliada Nacional da Pastoral da Juventude. Para compreender melhor o que é e pra que serve essa tal de Ampliada é necessário recordar um capítulo importante da história das Pastorais da Juventude do Brasil.
No começo da sua organização e articulação nacional a Pastoral da Juventude (PJ) organizava encontros em instancia nacional, que por serem espaços deliberativos, depois de um tempo passavam a se chamar de Encontro Nacional da PJ à Assembléia Nacional da PJ. Contudo em sua 11ª edição, torna-se Assembléia Nacional das Pastorais da Juventude do Brasil (PJB), ou seja, um espaço de organização em conjunto entre as Pastorais da Juventude do Brasil (Pastoral da Juventude, Pastoral da Juventude Estudantil, Pastoral da Juventude Rural e Pastoral da Juventude de Meio Popular). Diante disso a PJ viu-se provocada a criar um novo espaço próprio de deliberação. Assim aconteceu no ano de 2001, em São Luiz do Maranhão, a primeira “reunião ampliada da PJ”, que logo se tornou Ampliada Nacional da PJ, no ano de 2004 em Vitória-ES. Depois na Ampliada de Salgado-SE em 2005 surge uma secretaria nacional própria da PJ e o nascimento dos projetos nacionais “A Juventude Quer Viver”, “Caminhos de Esperança”, “Mística e Construção”, “AJURI” e “Teias de Comunicação” que foram reassumidos em 2008, na Ampliada de Palmas-TO.
Enfim, em 2011, voltando em terras maranhenses de onde nasceu, a Ampliada Nacional da PJ, norteada pela temática “PJ: Missão e Profetismo” escreve mais um capítulo na história. A iluminação bíblica do livro de Ester “O meu desejo é a vida do meu povo” (Est 7,3), e o lema “Vamos juntos/as gritar, girar o mundo, chega de violência e extermínio de jovens”, faz da voz dos/as jovens ali presentes o grito declarado pelo nosso amigo Gisley antes de seu martírio.
Devido ao grande período de desarticulação, é claro por parte dos/as jovens da PJ de Mato Grosso do Sul, o grande sentimento de desconexão de toda essa caminhada. Mesmo com essa e outras dificuldades a Coordenação Regional da PJ decide manter pelo menos um delegado, das três vagas disponibilizadas ao Regional Oeste 1. Como eu já era o representante do regional na Coordenação Nacional, acabei assumindo também a função de delegado, pois mesmo com muita vontade, era inviável financeiramente enviar mais um representante. Ou seja, além de fazer parte da coordenação da atividade, era responsável em representar e envolver no processo de construção da Ampliada todas as dioceses e grupos de jovens do estado de Mato Grosso do Sul, fazendo-os refletir sobre as demandas que deviam ser refletidas.
Chegando dias antes em terras maranhenses, fui muito bem recebido pelos/as jovens imperatrizenses. A ansiedade tomava conta de toda a equipe de organização que já preparava os últimos detalhes. Aos poucos os/as delegados/as dos outros regionais chegavam e se acomodavam, e eu aos poucos fui me incomodando, pois, diferentemente dos outros regionais, era o único jovem provindo solitário de um regional imenso. Incomodo esse, amenizado com a chegada de dom Eduardo Pinheiro, bispo auxiliar de Campo Grande-MS e referencial do Setor Juventude da CNBB.
A abertura da Ampliada, como todo o seu decorrer, aconteceu de uma forma mística, seguido por uma mesa de abertura formada por diversos nomes importantes, mas o meu maior encantamento foi com a presença da jovem Frankelly Silva, coordenadora do Grupo de Jovens GUC, que de pequena se tornou grande em meio a uma mesa cheia de “autoridades”, mostrando a grande prioridade da PJ: a vivência comunitária nos grupos de jovens. Logo na abertura uma frase com certeza marcou a todos/as os/as jovens ali presentes: “É necessário procurar decisões simples, concretas e possíveis de serem realizadas”, proferida pelo nosso amigo e pastor dom Vilson Basso, bispo de Caxias-MA, e referencial da juventude da CNBB Nordeste 5. Também vai ser difícil esquecer a Celebração Eucarística de abertura na Catedral de Imperatriz, Nossa Senhora de Fátima, animada pelos/as jovens da comunidade local, com a presidência de dom Gilberto, bispo de Imperatriz-MA. Nossa Senhora de Fátima também é padroeira da catedral de minha diocese de origem, Diocese de Jardim, isso me fez recordar meus tempos de iniciação em grupo de base.
O início dos trabalhos se deu com a socialização dos regionais sobre seus principais desafios e avanços, onde cada regional construiu uma tenda com símbolos de sua caminhada pastoral. Novamente na minha “solidão geográfica” peguei algumas camisetas, tecidos, subsídios, imagens e o meu inseparável tereré e construí um espaço pequeno, singelo e bonito para nosso Mato Grosso do Sul. Pequeno pela minha única presença, singelo pelos poucos objetos expostos, bonito pela representatividade daquele espaço, que com materiais acumulados de minhas andanças pejoteiras, soavam como se fossem gritos, talvez um grito de “socorro” e outro de “estamos aqui”. Mesmo diante das dificuldades, Mato Grosso do Sul se faz presente nesse momento marcante da PJ.
O decorrer da Ampliada foi intenso para todos/as, porém pra mim a sensação talvez fosse em dobro, pois estava em dupla função, ao mesmo tempo em que estava na organização também era um único delegado. Todos os momentos de decisões em grupos, ou em reuniões de regional, eu me reunia com meus companheiros mato-grossenses, do Regional Oeste 2, que a meu ver teriam a realidade mais próxima a minha. Ao mesmo tempo em que haviam esses momentos de se reunir em regional, também haviam reuniões noturnas, quase “madrugais”, da Coordenação Nacional, ou reuniões de alguma equipe de trabalho, ou reuniões de algum projeto, ou mesmo “reuniões” de descontração, partilha e integração, que, mesmo com todo o meu esforço, eram raros de aproveitar devido ao grande cansaço.
Diversos foram os momentos que ficarão na memória, dentre eles destaco: o incansável o esforço da assessoria de Solange Rodrigues, padre Wandinho e Allesandra Miranda. O passeio atravessando o rio Tocantins. A celebração em memória aos mártires da caminhada, recordando a vida doada pela causa juvenil e pelo anúncio do Evangelho. O momento de deserto e leitura orante do livro de Ester (7, 3) “O meu desejo é a vida do meu povo”. A missão realizada porta a porta em algumas comunidades mereceria um tópico a parte, pois, conhecemos a realidade, partilhamos vida, nos deparamos com situações difíceis e também situações bonitas, realço a fala que ouvi em uma das famílias que visitamos: “agradeço a Deus por vocês terem entrado em minha casa hoje”.
Os momentos deliberativos da Ampliada foram marcados pela reafirmação e reformulação dos projetos nacionais: “A Juventude Quer Viver”, que visa defender a vida da juventude, “Caminhos de Esperança”, formando melhores assessores/as e coordenadores/as, “Mística e Construção”, que busca vivenciar a fé de diversas formas, “AJURI” conhecendo a realidade das comunidades indígenas e quilombolas, e “Teias de Comunicação” que tem o objetivo de fomentar uma melhor comunicação na PJ. Além da criação do novo projeto “Tecendo Relações” que pretende trazer a discussão de gênero, afetividade e sexualidade para os grupos de jovens. A disposição dos dois candidatos, Gabriel Jaste (Diocese de Duque de Caxias-RJ), e Thiesco Crisóstomo (Diocese de Marabá-PA), em estar assumindo o serviço da secretaria nacional da PJ. A forma orante como foi realizada essa escolha, que levou Thiesco a ser selecionado, com a proteção de Nossa Senhora Aparecida, para essa caminhada. O agradecimento de todo o Brasil a Hildete Emanuele, que pela vida doada durantes três longos anos à secretaria nacional, deixou a marca da missionariedade cravada no seu trabalho. A aclamação da nova Comissão Nacional de Assessores/as (CNA): Alessandra Miranda, padre Wander Torres, irmão Joilson Toledo, Joaquim Alberto, padre Edson Thomassim e irmã Maria Couto.
Gostaria de agradecer carinhosamente a todos/as que muito trabalharam para que esse momento acontecesse. Dentre eles, agradeço a amizade, assessoria e acompanhamento de Raquel Pulitta, Renato Barbosa, padre Sávio e Sandro Hilário, que muitas vezes se desdobraram para melhor nos ajudar, e principalmente a todos/as os/as jovens de Imperatriz, em especial as meninas da lojinha, que além de trabalhar muito, nos aturaram durante uma semana inteira. Volto de Imperatriz com esperança de que a PJ de Mato Grosso de Sul esteja cada vez mais organizada, forte e atuante, para defender a vida da juventude com missão e profetismo.
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