A perversidade do Sistema: Despertando para a Política. Ariel O. Gomes. (arielog2008@gmail.com)
Um dia estava numa palestra sobre a questão ecologia-consumismo-poluição e, o palestrante disse: “Até hoje o melhor sistema que se adaptou no mundo é o capitalismo”. Aquilo pra mim foi a gota derradeira. Como pode um sistema que é tão desumano ser o que melhor se adaptou. Adaptou a quem? Pra quem? Como pode algo ser tão adaptado a humanidade sendo que ele proporciona que 20% da população detenham 80% das riquezas mundiais? Isso, no mínimo, é uma afronta à dignidade humana. Esse tipo de discurso, benevolente sobre o capitalismo, é que contribui para o sacrifício de milhões de seres humanos: fome, miséria, educação pífia, sem teto, sem terra, refugiados e demais marginalizados.
A perversidade refere-se ao lucro exagerado obtido por poucos, que está condicionado aos baixos salários da maioria. Um exemplo simples é o aumento de mais de 60% nos salários dos parlamentares e um aumento ridículo do mínimo (e por isso haverá corte e contenção de gastos!!). Ou seja, para existir milionário é necessário existir pobre e miserável. Mesmo que muitos não percebam as causas desse problema, por falta de consciência, percebem a conseqüência. Ainda assim , temos a capacidade de responder que o sistema é desse jeito, não tem como mudar, é uma utopia melhorar. Pois bem, esse é o discurso que o sistema deseja. O sistema não quer que sejamos críticos, inovadores, reacionários e porta-vozes de uma nova maneira de conduzir a política.
Não pense que estou falando que a solução seja o socialismo ou comunismo, não é isso. O fato é que necessitamos de outra forma de modelo econômico, por que o que aí está não supre as nossas necessidades, não corresponde ao bem comum, nem condiz com nosso bem estar. Portanto, é uma necessidade e não uma opção.
O ser humano é um ser que faz história, promove mudanças, gera novidades. O discurso de que não é possível mudar não considera a história. Enganam-se aqueles que acreditam que os modelos de desenvolvimento sempre foram como o é atualmente. Milton Santos, um dos maiores intelectuais brasileiros, primeiro negro e não europeu a receber o prêmio considerado com “Nobel da Geografia”, escreveu:
“De fato, se desejarmos escapar à crença de que esse mundo assim apresentado é verdadeiro e não querermos admitir a permanência de sua percepção enganosa, devemos considerar a existência de pelo menos três mundos num só – o primeiro seria o mundo tal como nos fazem ver , a globalização como fábula; o segundo seria o mundo tal como ele é, a globalização como perversidade; e o terceiro, o mundo como ele pode ser, uma outra globalização”.
Existe uma relação muito forte entre globalização e o sistema, porque a primeira contribui como solo fértil para o segundo brotar. A globalização permite que o neoliberalismo (pensando em termos de livre comércio) se estabeleça. E sabemos, o neoliberalismo é o solo fértil do capitalismo. O neoliberalismo é a pouca intervenção do Estado, ou ainda a parceria do Estado com as grandes corporações, de maneira a garantir os interesses destas, e não necessariamente o interesse público, o bem comum.
Então chegamos à pergunta: E aí o que fazer? Acredito que Saramago pode nos ajudar.
José Saramago disse: “Existe uma coisa que não se discute em lugar algum: a Democracia. A democracia está aí como se fosse uma espécie de santa do altar, e não se repara que a democracia em que vivemos é uma democracia seqüestrada, condicionada, amputada”.
A resposta é mobilização e participação política. O que nos resta é isso, e aquele que não gosta de política vai ter que aceitar as decisões daquele que gosta.
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