sexta-feira, 8 de abril de 2011

UNS OS PÉS DOS OUTROS‏

UNS OS PÉS DOS OUTROS
Queridos,
confesso para vocês que foi uma descoberta também para mim. Não tinha dado muita importância àquela frase que Jesus pronunciou logo depois o lava-pés dos discípulos: "também vocês devem lavar os pés uns dos outros".
Uns dos outros. Reciprocamente.
Isto significa que a primeira atenção, nós devemos manifestá-la dentro das nossas comunidades, servindo os irmãos e deixando que eles nos sirvam.
Exercitar-se como Igreja a lavar os pés de quem é marginalizado de todos os banquetes da vida, é coisa boa.
Mas antes dos deficientes, dos vagabundos, dos oprimidos, de quem está cotidianamente fora do cenáculo, vêm os quem partilham conosco a casa, a mesa, a igreja.
Só quando as nossas mãos terão secado os tornozelos dos nossos irmãos, então poderão massagear as batatas dos outros sem as arranhar. E só quando uma mão amiga terá lavado os nossos calcanhares, eles então poderão se mover em busca dos últimos sem se cansar.
Precisamos retomar o valor da reciprocidade do lava-pés que é o ensinamento mais forte escondido neste gesto de Jesus.
Até agora consideramos este gesto legal, que choca. Pelo contrário, a frase "uns os outros" nos leva a compreender que o jarro, a bacia e a toalha, precisam ser usados dentro do Cenáculo. Não existe uma eucaristia dentro e um lava-pés fora. Ambos são operações que se completam e que devem  ser colocadas em prática ali onde os discípulos de Cristo se reúnem e vivem.
Concluindo: jarra, bacia e toalha devem se tornar peças importantes dentro toda experiência comunitária. Com a esperança que não fiquem só como peças de enfeite.
O que significa tudo isso para nós?
Não se trata de ser puros. Também os apóstolos na última ceia o eram: "vocês são limpos" disse Jesus. O problema é ser servo. Porque os homens aceitam a mensagem de Cristo, não tanto de quem experimentou a ascética da pureza, quanto de quem viveu as tribulações do serviço.
Longe de ser um gesto sentimental para guardar no álbum dos bons exemplos!
A lógica do lava-pés é revolucionaria. Ao ponto que tem gosto de hipocrisia quando uma associação eclesial ou uma comunidade dividida por brigas e rivalidades, pretende organizar o lava-pés para os outros. Não faz sentido!
O serviço aos últimos de fora não purifica ninguém quando se pula a passagem obrigatória do serviço aos últimos de dentro.
Ou melhor, se torna condenação até para os que acreditam ser suficiente a reconciliação sacramentai e • não dão valor para a grande reconciliação com a vida que se alcança lavando os pés do próximo mais próximo.
"Uns os outros". A partir das famílias que não podem se dizer cristãs se não assumir a lógica da reciprocidade. Porque se o esposo morre de vontade de lavar os pés dos dependentes químicos, a esposa se orgulha de servir os idosos, a filha mais velha quer ser voluntária no 3° mundo, mas depois os três não se olham na cara quando estão em casa, o deles é só um contra testemunho penoso que prejudica até os destinatários do seu serviço aparentemente generoso.
Falei o suficiente para que a repetição ritual do lava-pés que celebraremos numa comoção geral, nos dê uma vontade imensa de serviço, de acolhida, de paz para com todos. A partir dos mais próximos. E nos faça entrar em crise mais do que em êxtase. Já que somos tão lentos para nos converter, o jarro está exposto ao sacrilégio não menos da mesma Eucaristia.

Dom Tonino Bello

Nenhum comentário:

Postar um comentário