sexta-feira, 8 de abril de 2011

Você me daria a mão ?‏

Você me daria a mão?


Para quem sempre acompanha este blog, segue uma “curiosidade”: poucos foram os artigos que eu escrevi que não tiveram a inspiração de uma pessoa, situação ou grupo. Alguns leram e logo se identificaram, outros sabiam que era deles os exemplos que eram dados, mais alguns ainda viveram ou ouviram dizer das situações ali relatadas. Pois bem, o texto de hoje não foge a esta regra. A exceção é que eu hoje eu vou apresentar a motivação por trás deste artigo.

Recebi esta semana um e-mail relatando que mais uma equipe diocesana de PJ neste país havia sido convidada a se desmanchar depois de algum tempo de caminhada. Vivi na pele estes mesmos sentimentos e sei o quanto é difícil este momento para os companheiros e companheiras de lá.

Este mesmo e-mail me trazia o questionamento do que era possível se fazer em casos assim. Há tantas dioceses, paróquias, comunidades com suas lideranças jovens e pejoteiras sendo “convidadas” a saírem. Já participei de vários momentos de análise desta conjuntura pastoral. Muitos destes momentos apontavam para um novo modelo de Igreja que era mais centralizador e menos pastoral. Outras análises apontavam para algumas posturas das próprias lideranças pejoteiras que inviabilizavam o diálogo com o clero e com os movimentos.

Não quero colocar se a culpa é desta ou daquela postura, se está com os jovens ou com o clero. Há tantas variáveis que podem ser colocadas aqui, que acabaria por tornar infindável esta discussão. Gostaria de tratar de um único aspecto, que não resolve o problema, mas que ajuda a clarear alguns possíveis rumos.

Entra agora o segundo personagem que motivou este artigo: os companheiros do projeto “Eu sou + 7 x 7”, promovido pelo Instituto Paulista de Juventude. Boa parte deste pessoal veio da mesma experiência de “convite para sair” da estrutura diocesana. Toda a turma sofreu, rezou, meditou, levantou, sacudiu a poeira e entrou na batalha por um novo agir pastoral.

Foi doloroso, mas sair da estrutura diocesana e hierárquica que fazemos entre as instâncias eclesiais deu uma nova luz a respeito deste agir. Antes, tínhamos um olhar segmentado e departamentalizado (se é que essa palavra existe) sobre representações e sobre nossa própria organização. Não era culpa nossa. A estrutura na qual estávamos inseridos também era assim: do grupo vai para a PJ da paróquia, daí para a PJ do setor, daí para a PJ da diocese, daí para a PJ da sub-região, daí para a PJ regional, daí para a PJ nacional. Hierarquia pura. Cada “PJ” no seu departamento.

Há tempos já sabíamos que a solução para fugir deste esquema piramidal era uma organização em redes, que extrapolava a dimensão de paróquia, setor ou diocese. Onde tivesse um grupo precisando de apoio, outro grupo, independente se da mesma localidade, poderia apadrinhá-lo. As representações eram por núcleos, não pela estrutura que aquela localidade já fazia.

Tudo aquilo era muito bonito, mas não se encaixava na nossa prática pastoral. Estávamos, como eu já disse, com a cabeça na organização eclesial, não na organização em rede. Mas isto tudo mudou quando começamos a trabalhar no IPJ. Ele não está amarrado às estruturas. Passamos a lançar as sementes e a cuidar desta rede de relacionamentos e de pastoral.

Tem dado certo. Tenho aprendido muito. Não importa se a menina é lá do Valo Velho ou se o garoto é de Ermelino Matarazzo e nem se o assessor vem lá da Baixada Santista ou se nos reunimos num sítio em Jarinu. Não. Nós nos sentimos PJ e enquanto PJ nós realizamos este trabalho pastoral em rede. A situação que percebemos hoje pede que nossa proposta seja esparramada, conhecida e vivida. Pede que grupos sejam formados e bem acompanhados. Pede que não nos deixemos derrotar pelo sentimento de tristeza, mas que levantemos a cabeça e continuemos o trabalho.

Queridos e queridas jovens desta e de tantas dioceses, paróquias e grupos que foram convidados a se retirar: peço que não desanimem. Vocês não estão sozinhos e sozinhas. Há muita juventude que precisa conhecer a PJ e há muita juventude disposta a apresentá-la. Tanto eu quanto vocês nos encantamos um dia com esta proposta. Não deixemos este amor primeiro findar. Há uma canção da Bruna Caram que as minhas amigas do IPJ me ensinaram a gostar e a refletir que se chama “Palavras do coração”. Diz assim alguns de seus versos:

“Sonhos, aventuras, juras, promessas, dessas que um dia acontecerão. Você me daria a mão?”. Todos nós já vivemos estas experiências de aventuras, já partilhamos sonhos, promessas e juras. Somos um povo de esperança, mas não de uma esperança solitária. Pejoteiro não vive sozinho. Pejoteiro sabe que para viver este sonho novo, esta promessa de um novo Reino, é preciso que estejamos juntos. É preciso que nos demos as mãos. É preciso mão com mão companheirada.

Você me daria a mão?
Rogério Oliveira - Assessor da PJ / Regional Sul I

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